Bruno Figueiredo: A Jornada do Forró na Noruega – De Ouro Preto a Oslo
- Rodrigo Braz Vieira
- 16 de ago. de 2024
- 7 min de leitura
Bruno Figueiredo, natural de Ouro Preto, Minas Gerais, é uma figura central na disseminação do forró na Noruega. Há mais de uma década, ele vem compartilhando a magia do forró, com o público norueguês. Sua jornada começou nas quadrilhas nos tempos de escola e evoluiu para a criação de uma comunidade vibrante de forrozeiros em Oslo. Através de projetos como o Torsdagsforró (Forró de Quinta) e as oficinas mensais no bar Uhørt em Oslo, Bruno tem não apenas ensinado a técnica da dança, mas também inspirado uma conexão cultural profunda entre brasileiros e noruegueses. Nesta entrevista exclusiva para o Brasil i Norge, Bruno fala sobre os desafios e as alegrias de promover o forró em um país distante, suas origens em Minas Gerais, e seus planos futuros para o forró na Noruega.

O que torna o forró tão especial para você? Como você descreveria a essência dessa dança e música para alguém que nunca ouviu falar sobre ela?
O forró é especial para mim porque é o ritmo através do qual me expresso musicalmente. Desde cedo, ele mexe comigo, começando nas quadrilhas escolares (dança típica das festas juninas, em que grupos dançam em pares seguindo coreografias). A essência do forró é como uma manifestação da música folk, algo que ressoa com as raízes culturais europeias e latino-americanas, muitas vezes ligadas a tradições religiosas. Mesmo que eu não seja religioso, sinto essa conexão histórica, expressa no som do acordeon.
Desde que você chegou à Noruega há mais de 10 anos, como tem sido a experiência de ensinar forró para o público norueguês? Quais desafios e surpresas você encontrou ao longo do caminho?
Tenho ensinado forró desde 2007, e a experiência tem sido extremamente gratificante. É uma grande satisfação ensinar adultos a dançar, algo que muitos sempre quiseram fazer, e ver como eles conseguem dominar os giros, dançar em conjunto e conhecer novas pessoas. Isso me enche de energia e alegria. A maioria dos meus alunos são noruegueses, e os principais desafios que encontro envolvem incentivar as pessoas a saírem da sua zona de conforto. Muitas vezes, poderíamos ensinar mais pessoas se elas simplesmente tivessem coragem de dar o primeiro passo. Quando alguém se arrisca, é quase certo que vai aprender pelo menos alguns passos e giros, que podem ser usados em qualquer ocasião, como dançar em uma festa de casamento. Outro desafio é ensinar a equilibrar o peso do corpo. Não se trata de falta de ritmo, pois todos podem dançar seguindo o ritmo de qualquer instrumento da música. A verdadeira dificuldade está em aprender a distribuir o peso corretamente, como no esqui, onde é crucial saber onde colocar o peso do corpo ao frear. No forró, ao fazer um giro, por exemplo, é importante transferir o peso para a perna esquerda para liberar a direita e facilitar o movimento. Esse é o grande desafio.
O que inspirou você a iniciar o projeto Torsdagsforró em 2008? Como foi a recepção inicial e como você vê o crescimento da comunidade de forró na Noruega desde então?
O projeto Torsdagsforró, que iniciei em 2007-2008, começou como um plano piloto. Fui a primeira pessoa a dar um curso de forró na Noruega, que aconteceu na Universidade de Oslo para estudantes de pedagogia. Infelizmente, após um ano, o grupo se dispersou devido a mudanças na vida pessoal de cada um, e o curso ficou registrado apenas como uma experiência pioneira. Mais tarde, em 2012-2013, após um show do Diego Oliveira, que foi o primeiro show de forró com um artista trazido para a Noruega, senti que era o momento de iniciar o projeto Torsdagsforró. Esse show, organizado por duas norueguesas que aprenderam forró no Brasil, despertou em mim a consciência do crescente movimento de forró na Europa. Como eu era, provavelmente, a única pessoa na Noruega com essa competência, decidi lançar o projeto, que durou cerca de cinco anos e foi a base para a criação de uma comunidade de forró no país. A recepção inicial foi excelente, com aulas para mais de 200 pessoas. Mesmo após a minha saída por questões de saúde e familiares, o forró continuou vivo, com outros atores assumindo o movimento. Durante minha ausência, foram organizados dois festivais de forró, e a comunidade em Oslo se manteve forte. Hoje, mesmo sem uma contagem exata, estimo que pelo menos 200 pessoas na Noruega têm competência para dançar forró em um nível básico.
Você administra o grupo Forró Oslo no Facebook e a comunidade Forró Norway no Instagram. Como essas plataformas têm ajudado a promover o forró e a conectar a comunidade local?
Administro o grupo Forró Oslo há cerca de 12-13 anos e recentemente comecei a gerenciar a comunidade Forró Norway no Instagram. Essas plataformas têm sido fundamentais para conectar a comunidade local e promover o forró. No Instagram, notamos maior eficácia em alcançar pessoas e informar sobre eventos. Turistas que vêm a Oslo frequentemente nos encontram por lá, perguntando sobre eventos de forró. Graças a isso, conseguimos atrair alguns turistas para nossos encontros de domingo e até para cursos de forró. Um exemplo foi um turista brasileiro que, por coincidência, estava em Oslo na noite de um curso e nos encontrou pelo Forró Oslo no Facebook, depois de ter lido sobre o Instagram. Essas plataformas, portanto, são essenciais para manter a comunidade informada e ativa.

O que você acha que contribui para o sucesso do forró na Europa, especialmente em países como Alemanha, França, Reino Unido e Portugal?
Acredito que o sucesso do forró na Europa se deve a uma conexão ancestral que o ritmo desperta nas pessoas. Há algo na harmonia do forró que encanta e conquista qualquer pessoa. É difícil alguém ouvir forró e não gostar, especialmente devido à sua diversidade — há bandas que misturam forró com reggae, coco, maracatu, baião, xaxado e até samba. Essa variedade torna o forró acessível e atraente para diferentes públicos. Além disso, países como Alemanha, França, Reino Unido e Portugal têm uma grande comunidade de brasileiros, o que facilita a disseminação do forró. Na Alemanha, por exemplo, existe uma forte inclinação para abraçar culturas estrangeiras, o que também contribui para a popularidade do forró. Já em França e Portugal, há um elo cultural histórico com o forró, que remonta ao termo "forrobodó" ou "faux-bourdon", com origem na França, e sua evolução em Portugal. Além disso, muitos brasileiros que dançavam forró no Brasil sentem saudade e acabam recriando essa cultura em seus novos países, espalhando essa paixão.
Você pode nos contar um pouco sobre sua cidade natal, Ouro Preto? Quais são os aspectos culturais e históricos que mais marcaram sua infância?
Ouro Preto despertou em mim uma profunda paixão pela história desde a infância. Lembro-me de quando, ainda criança, fui abordado por turistas que me perguntaram onde ficava a Casa dos Inconfidentes. Com apenas seis ou sete anos, eu prontamente apontei na direção correta e compartilhei algumas informações que havia ouvido dos adultos. Eles ficaram impressionados e comentaram como uma criança tão jovem sabia tanto sobre história. Isso me deu uma autoestima incrível e despertou em mim o amor pela história, que acabei estudando na universidade local. Além disso, foi em Ouro Preto que tive meu primeiro contato com o forró universitário, quando a banda Falamansa começou a tocar na região em 1999. A cidade também é próxima de Lavras Novas, um distrito que se tornou um ponto de referência para o turismo rural e o forró em Minas Gerais. Esses elementos culturais e históricos foram fundamentais para minha formação e continuam a influenciar minha vida até hoje.

Foto: Visit Brasil
Quais são os seus pratos favoritos da culinária brasileira? Existem pratos específicos que você sente falta na Noruega e que gostaria de ver mais por aqui?
Meus pratos favoritos da culinária brasileira são, em sua maioria, de Minas Gerais. Sinto muita falta do frango com quiabo que minha avó fazia, do feijão tropeiro (que é uma espécie de feijão com farofa) e do tutu de feijão (feijão batido no liquidificador). Também sinto falta da feijoada, que é um prato tradicional que poderia ser mais presente aqui na Noruega. O pão de queijo, que também adoro, já conseguimos fazer aqui, pois agora encontramos os ingredientes necessários. Esses pratos me trazem uma grande nostalgia, e seria maravilhoso vê-los mais disponíveis na Noruega.

Para os noruegueses que planejam visitar o Brasil, quais lugares você recomendaria? Quais são os destinos imperdíveis para quem quer explorar a verdadeira cultura brasileira?
Recomendo fortemente que os noruegueses visitem Minas Gerais, onde é possível desfrutar de cachoeiras e trilhas pelo cerrado e pela Mata Atlântica. Um destino imperdível é o Parque do Caraça, localizado em Barão de Cocais, perto de Ouro Preto e Mariana. Ali, é possível explorar um antigo convento e colégio interno dos padres, que formou vários presidentes do Brasil, e que hoje é um hotel rodeado por trilhas e cachoeiras exuberantes. Um dos momentos mais mágicos é às oito horas da noite, quando é possível ver o lobo-guará se aproximando para se alimentar. Além disso, os distritos de Ouro Preto, como Lavras Novas e Chapada, são altamente recomendados. Para aqueles que querem explorar a costa, sugiro a Ilha Grande, especificamente a Praia Vermelha, e a Praia de Trindade, em Paraty. Esses destinos fazem parte da Estrada Real, uma rota histórica que levava o ouro de Vila Rica (antigo nome de Ouro Preto) a Paraty, e oferecem uma combinação única de história e natureza.
O que você gostaria de ver no futuro da cena de forró em Oslo e na Noruega como um todo? Existem planos ou projetos futuros que você gostaria de compartilhar?
Meu sonho é ver o forró na Noruega alcançar o status de uma instituição cultural, talvez até mesmo como um patrimônio imaterial. Para isso, gostaria de criar uma associação sem fins lucrativos, similar ao modelo de Forró Estocolmo, onde uma comunidade apaixonada organiza eventos e festivais anuais. Há dez anos, fui convidado para ser professor voluntário no primeiro festival de forró em Estocolmo, que hoje é organizado por uma associação vibrante que reúne forrozeiros de toda a Escandinávia e além. Gostaria de ver algo semelhante na Noruega, onde o forró possa crescer de forma coletiva, apoiado culturalmente e garantido como uma tradição que passa de geração em geração, sempre viva e pulsante.
Gostaria de relembrar que, no dia 12 de setembro, iniciaremos dois cursos de forró, com duração de cinco quintas-feiras. Teremos aulas nos dias 12, 19 e 26 de setembro. Faremos uma pausa para o høstferie e retomaremos nos dias 10 e 17 de outubro. Às 18h, teremos um workshop para iniciantes, ideal para quem nunca dançou ou conhece apenas o básico. Às 19h, começa o curso intermediário, voltado para aqueles que já dominam o básico e desejam aprender novos movimentos e giros.
Além disso, no segundo domingo de cada mês, realizamos uma noite de forró no bar Uhørt. As próximas datas são 10 de setembro, 8 de outubro, e 12 de novembro. A programação começa às 18h com um workshop gratuito para iniciantes ou para quem conhece apenas um pouco do forró. Das 19h às 22h, um DJ de forró anima a pista, e todos são bem-vindos para dançar até as 22h. Sejam todos bem-vindos a participar mensalmente no bar Uhørt, sempre no segundo domingo de cada mês, a partir das 18h.
Para quem desejar se inscrever no curso de forró do Bruno Figueiredo somente acessar o QR-Code abaixo!
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