De Salvador a Oslo: Margareth Menezes no Cosmopolite
- Rodrigo Braz Vieira

- 1 de out.
- 5 min de leitura

Margareth Menezes é uma das vozes mais marcantes da música e da cultura brasileira. Há mais de três décadas, ela se consolidou como uma das principais representantes da identidade afro-brasileira, com uma trajetória musical que mistura axé, samba-reggae e afropop. Esses gêneros, que nasceram em Salvador nos anos 1980, representam uma fusão única entre ritmos africanos, a música popular brasileira e influências caribenhas – uma sonoridade que se tornou símbolo de festa, resistência e orgulho cultural para a população negra no Brasil.
Além de artista internacionalmente reconhecida, Margareth é atualmente Ministra da Cultura do Brasil. Em outubro, o público na Noruega terá uma oportunidade rara: assistir a um show da Margareth Menezes ao vivo em Oslo no palco do Cosmopolite Scene – um encontro com uma das artistas mais vibrantes e importantes do país.
A seguir, você confere a entrevista realizada pelo Cosmopolite Scene e publicada aqui no Brasil i Norge com autorização.
De Salvador para o mundo, Margareth Menezes em Oslo
Você tem sido uma figura central na cultura afro-brasileira há mais de três décadas, misturando axé, samba-reggae e afropop. Como sua identidade musical evoluiu desde os primeiros dias em Salvador até hoje, e como você mantém a conexão com suas raízes ao se apresentar internacionalmente?
Margareth Menezes – Eu venho moldando minha música ao longo desses 38 anos de carreira, que celebro neste ano. Algo muito importante na minha trajetória artística foi a consciência de ser uma mulher negra, nascida em Salvador – Bahia – Brasil. Tudo o que criei foi fortemente influenciado pela geração que me antecedeu: artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Rita Lee, Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga e tantos outros. Sempre tive uma inquietação natural, e meu trabalho sempre foi marcado pela experimentação, especialmente ao misturar sons pop com minhas raízes afro-brasileiras.
Primeiras influências
Quais experiências iniciais tiveram maior impacto na sua arte?
MM – Sem dúvida, meus quatro primeiros discos. O álbum de estreia Margareth Menezes (1988), depois Um Canto Pra Subir (1992), seguido por Kindala (1993), que foi muito experimental e misturou sonoridades afro com techno-pop, e depois Luz Dourada (1994), que contou com a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro em cinco faixas. Também posso citar discos como Gente de Festa, Brasileira, Pra Você, Tete a Tete e Maga Afropop Brasileiro, que têm uma forte identidade afropop e fazem a ponte entre o som de Um Canto Pra Subir e meu último trabalho, Autêntica. Faz três anos que não lanço um projeto inédito, mas planejo lançar um novo em 2027, para celebrar meus 40 anos de carreira.
O grande momento
Suas primeiras músicas e álbuns lhe deram reconhecimento internacional. Como você viveu esse momento e como isso moldou a direção da sua carreira?
MM – Foi muito forte e significativo para mim. Fui a primeira artista da minha geração a sair da Bahia e excursionar pelos Estados Unidos e pela Europa no início dos anos 90. A parceria com David Byrne, na turnê Rei Momo, que durou 11 meses em duas etapas, foi um divisor de águas. A canção Uma História de Ifá – Elejigbô ficou 11 semanas em primeiro lugar na rádio de World Music nos EUA. Quando voltei da primeira etapa dessa turnê, lancei o conceito de AfroPop Brasileiro em 1991, como tradução de African Pop. Registrei como marca no Brasil e, mais tarde, junto a grupos como Olodum, Ilê Aiyê, Muzenza, Cortejo Afro, Malê de Balê e Filhos de Gandhy, criei o movimento AfroPop Brasileiro. O objetivo era destacar a herança africana na cultura contemporânea do Brasil. A influência africana e ancestral na vida urbana não pode ser apagada.
Colaborações
Você já colaborou com artistas lendários no Brasil e no exterior. Qual colaboração mais te marcou e por quê?
MM – Colaborações podem parecer corriqueiras, mas para mim sempre são momentos de celebração da vida e de expansão do aprendizado – uma forma de homenagear meus mestres e, ao mesmo tempo, criar novas possibilidades com meus contemporâneos. Gravar com Maria Bethânia, Caetano, Gil, Elba Ramalho, Rosa Passos, Hermeto Pascoal, David Byrne, participar de Os Tribalistas, trabalhar com Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, Olodum, Ilê Aiyê e a nova geração, como o BaianaSystem – tudo isso me faz agradecer a Deus todos os dias por ter nascido cantora.
Da artista à ministra
Desde 2023 você também é Ministra da Cultura do Brasil. Como a experiência como artista influencia seu papel político, e como esses dois caminhos se conectam?
MM – São caminhos diferentes, mas a conexão é evidente: o Ministério da Cultura. Liderar um ministério não é simples, por causa dos processos burocráticos ligados a projetos, políticas e programas. O maior desafio hoje tem sido a regulação das plataformas digitais de música e audiovisual, além das questões jurídicas em torno do discurso de ódio. Os debates no Congresso são intensos, mas ajudam a amadurecer o processo. Também estamos muito atentos aos direitos dos cidadãos e à preservação da nossa democracia.
O show em Oslo
No show do Cosmopolite você vai apresentar tanto músicas novas quanto clássicos. Como você escolhe o seu repertório?
MM – É um repertório variado, mas ao mesmo tempo moderno em sua fluidez. Em minhas turnês europeias, é sempre importante revisitar as músicas que me apresentaram ao público daqui, mas também compartilhar canções desta fase mais recente da carreira.
Seus shows são conhecidos pela energia contagiante. Que atmosfera você quer criar em Oslo?MM – A reação do público é livre – alguns ficam parados ouvindo, outros dançam do início ao fim. Sempre entrego o meu melhor para que as pessoas saiam com boas lembranças. Apesar da tecnologia atual trazer muitos efeitos, mantemos o show orgânico. Quero preservar a essência humana da música. Cada apresentação deve ser única, cheia de energia, alegria e vitalidade.
Primeiro encontro com o público norueguês
Muitos na Noruega vão te ver ao vivo pela primeira vez. O que espera que eles levem dessa experiência?
MM – Espero que seja uma boa experiência – tanto para eles quanto para mim. Quem vai a um show é porque ama música ou a cultura que o artista representa. Mesmo que o idioma seja diferente, a música desperta sentimentos que todos entendem. Meu canto é uma voz ensolarada da Bahia, do Brasil.
Identidade afro-brasileira
Você tem sido uma defensora da identidade afro-brasileira. Qual o papel da sua música na promoção da compreensão cultural e da justiça social?
MM – O povo brasileiro é, em sua essência, musical. Somos uma mistura de culturas indígenas, africanas e europeias. É impossível negar a enorme influência africana em tudo, do clássico ao moderno, na música brasileira. Reconhecer a contribuição dos povos africanos não é apenas a minha luta, é um fato.
Olhando para o futuro
Há algum momento especial de palco que gostaria de recriar em Oslo?
MM – Cada momento no palco é intenso, mas reencontrar o público europeu é sempre cheio de energia. Tenho certeza de que a Noruega não será exceção.
Quais são os próximos passos após esta turnê?
MM – Vou continuar criando e produzindo. Em 2027 completo 40 anos de carreira com novos lançamentos, um novo álbum, um show especial e uma biografia. Será uma celebração inesquecível!
Informações do show
Essa será uma ocasião rara de ver Margareth Menezes ao vivo na Noruega – sua primeira apresentação no país. No dia 24 de outubro de 2025, ela sobe ao palco do Cosmopolite Scene, em Oslo, trazendo um repertório rico que combina músicas inéditas e clássicos de sua carreira.
Serviço:
Data: Sexta-feira, 24 de outubro de 2025
Local: Cosmopolite, Oslo
Abertura da casa: 20h
Início do show: 21h
Ingressos: 570 / 520 NOK + taxa
Classificação etária: 18 anos, com documento válido
Banda: Caio Oliveira (percussão), Pururu (percussão), Tito Oliveira (bateria), Nelmario Marques (baixo), Raoni Maciel (guitarra), com direção musical de Joilson Santos.
O concerto promete levar ao público uma viagem pela trajetória musical de Margareth e pela riqueza da herança afro-brasileira que ela representa. Uma noite única – imperdível para quem estiver em Oslo!
👉 Compre Ingressos!
Følger Brasil i Norge på Instagram




Comentários