Bass møter verden: Ney Conceição leva o groove brasileiro a Drammen na Noruega.
- Rodrigo Braz Vieira
- 25 de ago.
- 6 min de leitura
Ney Conceição: Entrevista exclusiva para o Brasil i Norge – às vésperas do concerto “Bass møter verden” na Union Scene

O mestre brasileiro do contrabaixo Ney Conceição, conhecido por sua virtuosidade e pela poderosa fusão de groove brasileiro, jazz e improvisação, está pronto para subir ao palco em Drammen no concerto especial “Bass møter verden”. Na mesma noite, o público também poderá assistir à apresentação de Manou Gallo, a carismática baixista e cantora da Costa do Marfim, famosa por seus shows explosivos e colaborações com nomes como Zap Mama e Manu Dibango.
Ao lado de um sólido grupo de músicos baseados na Noruega, essas duas potências do contrabaixo oferecem ao público uma noite onde ritmos e culturas de três continentes se encontram – e se fundem em uma só linguagem musical cheia de groove. Será uma noite de força rítmica, dança, improvisação e diálogo musical de altíssimo nível.
Com uma carreira que inclui colaborações com artistas como João Bosco, Elba Ramalho e Robertinho Silva, Ney se apresenta agora pela primeira vez na Noruega – trazendo canções inéditas de seu próximo álbum Marinas, que será gravado poucos dias após o concerto. Nesta entrevista, ele fala sobre suas raízes em Belém, sua relação com o contrabaixo, o significado de voltar à Europa – e por que esse encontro entre Brasil, África e Noruega é algo que o público não pode perder.
Você nasceu em Belém, no coração da Amazônia, uma região rica em ritmos e tradições musicais. Como esse ambiente amazônico influenciou sua formação como músico e seu estilo no contrabaixo?
Sim, eu nasci em Belém, no Norte do Brasil, e pouca gente sabe que, na minha infância — e até antes — as rádios de Cuba transmitiam em Belém em AM. Eu passei a infância inteira ouvindo música cubana. Essa foi uma influência muito forte na minha formação musical. Você pode perceber isso nos meus discos, nas minhas composições — tem uma influência cubana muito presente na minha música, justamente por causa dessas rádios. Eu cresci ouvindo música cubana.
Agora, em fevereiro do ano que vem, eu vou para Cuba a passeio. Vai ser um reencontro com essa música que me acompanhou a vida inteira, e acredito que vai ser uma experiência muito especial. A influência da América Central e do Caribe é muito forte no que eu faço. E o Pará, claro, é um celeiro de músicos incríveis — muita melodia, muito ritmo. Eu me sinto muito feliz por ter nascido no Pará.

Em 1996, você se mudou para o Rio de Janeiro – um dos principais centros musicais do Brasil. Como foi essa transição, e que portas se abriram para você como baixista nesse novo cenário?
Foi uma mudança muito difícil. Eu fui para o Rio em 1996 em busca de novos horizontes, querendo conhecer novos músicos e me aperfeiçoar musicalmente. Mas cheguei sem conhecer ninguém, nunca tinha estado no Rio antes, não tinha onde ficar. No começo, toquei na rua, enfrentei muitas dificuldades. Foi um momento muito duro da minha vida.
Mas logo depois comecei a me inserir no cenário da música instrumental e do jazz. Isso porque eu já cheguei com uma bagagem muito sólida de Belém. Eu conhecia todo o repertório do Real Book, tocava os temas do jazz, da música brasileira inteira. Então, quando precisei tocar algo no Rio, eu já sabia. Esse repertório foi essencial para eu começar a trabalhar por lá.
Você já colaborou com grandes nomes da música brasileira como João Bosco, Sebastião Tapajós e Robertinho Silva. Pode compartilhar uma memória ou momento musical que tenha marcado sua trajetória nesses encontros?
Difícil escolher apenas um, pois tive muitos momentos marcantes. Com o João Bosco, rodei o mundo. Toquei nos maiores festivais de jazz do planeta. Fiz turnês incríveis, inclusive com o Gonzalo Rubalcaba. Já com Sebastião Tapajós, tive a oportunidade de sair do Brasil pela primeira vez. Isso foi muito importante para minha carreira.
Com o Robertinho Silva, gravamos juntos o disco Jaquedu e fizemos muitos shows em duo — apenas baixo e percussão. Tocamos em um grande festival de jazz em Portugal, em Aveiro, chamado Adube. Era um evento gigante, na rua, com aquelas bandas imensas. De repente, subimos só nós dois — eu no baixo e ele na percussão — e conseguimos conquistar aquele público todo. Foi inesquecível.
Além disso, toquei com Elba Ramalho por oito anos, viajando o Brasil inteiro, inclusive os interiores mais profundos. Foi nessa época que compus as músicas do meu disco Alô, Alô Interior, todas escritas dentro do ônibus em turnê de São João. Isso também foi marcante: conhecer o Brasil a fundo, de verdade.
O concerto em Drammen reúne músicos do Brasil, da Costa do Marfim e da Noruega. Você vai dividir o palco com a renomada baixista Manou Gallo, além de músicos baseados na Noruega. O que representam para você esses encontros internacionais – e o que mais te anima nesse diálogo musical?
Esse concerto vai ser muito importante para mim porque marca o meu retorno à Europa. Minha última turnê por lá foi em 2019, antes da pandemia. Desde então, não voltei mais. Então essa apresentação na Noruega simboliza esse retorno.
Dividir o palco com grandes músicos como a Manou Gallo e com os artistas noruegueses será incrível. Essa troca de musicalidade e de experiências é algo que me motiva muito. Nós, brasileiros, somos fruto de uma miscigenação imensa — raças, etnias, culturas. Crescemos com essa mistura. Ir para a Noruega e somar mais essas influências ao meu som será maravilhoso. É uma mistura de músicas do mundo inteiro. Isso me encanta.
O que te levou a escolher o contrabaixo como instrumento principal? O que ele representa para você hoje – tanto tecnicamente quanto emocionalmente – e qual é o papel do baixo na música que você cria?
O baixo é a espinha dorsal da música. Ele sustenta tudo. Está na sessão rítmica, harmônica e até melódica. Se eu fosse comparar com o futebol, diria que o baixo é o camisa 10 — o meio-campo que está em todos os lados do jogo: na frente, atrás, nas laterais. É um instrumento incrível.
Comecei no violão, que até hoje é meu instrumento base. Componho tudo no violão, faço meus arranjos por ele. Também toco piano, mas é no violão que nascem as ideias. Quanto ao baixo… na verdade, nem sei se fui eu que escolhi o contrabaixo. Acho que ele me escolheu. Quando percebi, já era baixista profissional e vivia disso. Desde criança, minha memória é com instrumento na mão. Não me lembro de não ser músico. Então acho que foi um encontro da vida — e vamos ficar juntos para sempre.

O que você preparou para o concerto em Drammen? O público poderá ouvir composições autorais, improvisações, ou talvez algo inédito e surpreendente?
O repertório que preparei para Drammen inclui músicas inéditas do meu próximo álbum, que se chama Marinas. Na próxima segunda-feira (4 de Agosto), entro em estúdio para gravá-lo — será meu décimo disco. As músicas autorais que tocarei aí na Noruega são desse novo álbum. Como elas ainda não foram gravadas, nem pude enviá-las aos músicos antes. Ou seja: o público norueguês vai ouvir essas composições pela primeira vez, ao vivo!
Além disso, no final do show eu costumo cantar algumas músicas para criar uma interação maior com o público. Canto clássicos como Palco do Gilberto Gil, Azul do Djavan e São João Xangô Menino, também do Gil. O restante do show será formado pelas minhas músicas autorais. Tenho mais de 500 composições e todos os meus discos são autorais. Esse show será uma prévia do novo álbum — com emoção e exclusividade para a Noruega.
Para terminar – que mensagem você deixaria ao público norueguês que talvez ainda não conheça seu trabalho? Por que eles não podem perder o concerto Bass møter verden?
Quero dizer ao público norueguês que eles vão ouvir muita música brasileira, muito ritmo latino-americano, muito swing e muita alegria no palco. É isso que vou levar: energia, entrega e paixão pela música.
E tenho certeza de que essa energia será devolvida da melhor forma possível. A música é troca. A gente envia essa vibração do palco e o público retribui — e isso cria uma conexão única. Estou muito ansioso para chegar à Noruega e fazer esse grande concerto. Vai ser inesquecível.
📍 Informações do Show
🎵 Bass møter verden: Manou Gallo & Ney Conceição📅 Data: Quinta-feira, 28 de agosto de 2025🕖 Horário:– Abertura do bar: 18h00– Abertura das portas da sala: 19h00– Início do concerto: 19h30📍 Local: Klubbscenen, Union Scene, Drammen🎫 Ingressos: De NOK 325 a 375 – à venda no Ticketmaster ou em unionscene.no
👥 Idade mínima: 18 anos (permitido com acompanhante responsável)🎤 Organização: Interkultur
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