Rodrigo Cunha: A Voz por Trás do TEDxAmazonia no Seminário "A Possible Amazon" na Noruega
- Rodrigo Braz Vieira
- 9 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Rodrigo Cunha, CEO e fundador da agência de comunicação Profile, tem sido um pioneiro em contar histórias focadas em sustentabilidade, impacto positivo e projetos regenerativos desde 2013. Sob sua liderança, a Profile tornou-se uma empresa certificada como B Corporation, refletindo seu compromisso em promover mudanças significativas no Brasil e além. Rodrigo também coorganizou o TEDxAmazonia em 2010, um evento dedicado a compartilhar ideias que ressoam com a riqueza da região amazônica. Após uma pausa de 13 anos, a segunda edição do TEDxAmazonia aconteceu em 2023, e agora Rodrigo está se preparando para a terceira edição em 2024, com o tema Ancestralidade Coletiva.
Rodrigo está atualmente em Oslo para a segunda edição do seminário A Possible Amazon, organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Noruega (BNCC), que acontecerá no dia 10 de outubro no The Conduit Oslo. Ele participará da sessão de abertura como palestrante, trazendo suas percepções únicas sobre o desenvolvimento sustentável e sua experiência como organizador do TEDxAmazonia. O Brasil i Norge entrevistou Rodrigo sobre suas expectativas para o seminário e sua visão sobre como fomentar a colaboração global para o futuro da Amazônia.
Photo: Alex Pazuello SECOM
Você veio para Oslo para o seminário “A Possible Amazon”, o que você mais espera compartilhar com o público norueguês sobre o papel da Amazônia na sustentabilidade global?
No seminário "A Possible Amazon" aqui em Oslo, minha principal expectativa é compartilhar com o público norueguês aprendizados sobre a organização do TEDxAmazôlnia. Todos sabemos que a floresta amazônica não é apenas uma fonte vital de biodiversidade, mas também um dos maiores reguladores do clima do planeta. Ela absorve vastas quantidades de carbono, ajuda a manter padrões climáticos globais e sustenta uma vasta rede ecológica que é essencial para a vida na Terra.
Além disso, a Amazônia tem um impacto direto na produção agrícola do Brasil. Sem a floresta, a região central do país poderia sofrer uma redução significativa nas chuvas, entre 25% e 40%, afetando gravemente a agricultura e segurança alimentar, além da qualidade do ar, rios, solos e toda a vida da região e mundo. Essa é uma consequência que boa parte da população global não compreende.
Por outro lado, as populações locais entendem da preservação do bioma como ninguém. Estudos arqueológicos recentes apondam que existia uma civilização orgânica de pelo 10 mil anos de idade na Amazônia. Além disso, estudos de 2023 indicam que aproximadamente metade do total de árvores na floresta amazônica pertence a apenas 20 espécies de árvores. Muito provavelmente, a ciência indica, isso é resultado de manejo humano.
No entanto, estamos enfrentando uma ameaça real. Uma pesquisa realizada por um grupo de cientistas brasileiros, publicada na revista Nature, apontam que a Amazônia pode chegar a um ponto de inflexão até 2050, onde a floresta corre o risco de colapsar, o que teria consequências catastróficas para o clima e o modo de vida em todo o mundo. O que está em jogo aqui é imenso, e a Amazônia precisa ser preservada.
O que espero transmitir é que a proteção da Amazônia não deve ser vista apenas como uma questão regional, mas sim como um desafio global. Precisamos unir esforços para proteger este bioma, ao mesmo tempo em que encontramos maneiras de gerar desenvolvimento sustentável para as comunidades locais, mantendo o equilíbrio entre a conservação, o progresso econômico e desenvolvimento.
Photo: Visit Brasil
Com o relançamento do TEDxAmazonia em 2023 após uma pausa de 13 anos, como esta nova edição refletiu as mudanças na conversa ambiental global?
Desde que fizemos o TEDxAmazônia em 2010 havia a vontade de fazer mais. Esta vontade ficou hibernando até novembro de 2022, quando o Brasil passava pela troca de governo, e percebi aquele era o momento de exaltar as maravilhas e preocupações da floresta amazônica.
O relançamento do TEDxAmazonia em 2023, após 13 anos, refletiu as profundas mudanças na conversa ambiental global ao enfatizar a necessidade urgente de nos conectarmos mais profundamente com a Amazônia. Embora vejamos muitos líderes e figuras públicas falando sobre a importância do bioma, muitas vezes a Amazônia é percebida como algo distante para a maioria das pessoas. Isso cria uma desconexão que impede a valorização real da floresta. E não tem como a gente amar, cuidar e valorizar algo que não conhecemos. Foi este o impulso inicial de trazer de volta o TEDxAmazônia no ano passado.
O TEDxAmazônia também surgiu da necessidade de encontrar soluções, e por isso em 2023, sob o tema “Onde as vozes se encontram” convidamos 46 vozes de diferentes perspectivas, regiões e realidades para falar sobre a floresta e saber como podemos cuidar dela. Bioeconomia, geração de renda e oportunidades, desenvolvimento territorial, ciência, empreendedorismo, arqueologia, direitos da natureza e temas como a ocupação do território pelas populações locais, combate ao desmatamento e conservação da biodiversidade foram alguns dos temas abordados no evento, e que sem dúvidas, afetam o mundo todo.
Enquanto você se prepara para a terceira edição do TEDxAmazonia em 2024, como você vê o evento influenciando o diálogo internacional sobre o futuro da Amazônia?
Mais uma vez, de 29 de novembro a 01 de dezembro, o evento volta com o propósito de amplificar as vozes, os saberes, a riqueza cultural e a beleza que fazem dessa região o maior patrimônio natural do planeta. Cuidar, falar, aprender sobre a Amazônia tem a ver com nosso aprender sobre a Amazônia tem a ver com nosso futuro.
Neste ano, o TEDxAmazônia retorna, com o tema "A ancestralidade coletiva”. Não podemos olhar para construir um futuro do qual nos orgulhemos sem a conexão com nosso passado. Tem sido assim com nossa espécie, mas cada vez menos numa sociedade altamente tecnológica e imediatista. Neste ano, queremos honrar e reverenciar as vozes tradicionais, assim como aprender com as novas tecnologias que vão nos levar adiante, sem ignorar nosso passado — que nos trouxe até aqui.
Aprendemos muito com os povos indígenas e tradicionais no ano passado e ficou muito evidente que muitas soluções para cuidar da floresta, o principal ativo natural do planeta, estão vivas nas tradições antigas. A ancestralidade coletiva vai além das raízes familiares, ela abrange a sabedoria compartilhada, nos conhecimentos passados de geração em geração dentro de povos ao redor do planeta.
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